Thiago Peixoto
Tentar transferir a responsabilidade da educação para a escola é algo que nunca deu e nunca dará certo. Os pais precisam se conscientizar de que participar da escola não é o mesmo que apenas se informar sobre seus filhos. É preciso acompanhar a aprendizagem e o desenvolvimento educacional pra valer.
O sucesso educacional depende de fatores que ultrapassam a sala de aula e os muros das escolas. Mesmo que tudo fosse perfeito – melhores professores, ótima infraestrutura, ensino em tempo integral –, ainda assim a aprendizagem de um aluno dependeria muito da participação ativa e exigente dos pais. Mesmo que o estudante se esforce, seus avanços serão limitados se não houver dedicação da família.
Tentar transferir a responsabilidade da educação para a escola é algo que nunca deu e nunca dará certo. As experiências de sucesso revelam a importância da participação da família e da comunidade no ambiente escolar. Onde os pais vigiam, censuram, cobram, apoiam e aplaudem, a educação melhora. O contrário se verifica onde a maioria dos pais se omite e despreza a participação na vida educacional dos filhos.
Quem não teve acesso a um ensino de qualidade tende a valorizar menos a educação. Pude comprovar isso de perto visitando famílias alheias à vida escolar de seus filhos. A realidade é ainda mais dura em famílias com baixa escolaridade e com baixa renda mensal: pais incentivam filhos a abandonar a escola, pois preferem vê-los trabalhando e levando dinheiro para casa. O que pode até satisfazer as necessidades mais urgentes da família, mas os condena a um futuro lamentável e limitado. Cria-se um círculo vicioso que atingirá as próximas gerações.
Uma realidade triste da nossa sociedade que só pode ser combatida com educação de qualidade. Percebendo isto, algumas escolas públicas adotaram ações para encarar este crônico problema. Foram além das tradicionais reuniões de pais e mestres e criaram a função de “coordenador de pais”, cargo este geralmente ocupado por uma pessoa de credibilidade. É este coordenador o responsável por visitar famílias de alunos cujos pais não estão integrados ao ambiente escolar. É ele também que mobiliza e organiza atividades especiais com participação dos pais e alunos, como oficinas e palestras educativas.
Os pais precisam se conscientizar de que participar da escola não é o mesmo que apenas se informar sobre seus filhos. É preciso acompanhar a aprendizagem e o desenvolvimento educacional pra valer. Saber se eles estão indo às aulas, auxiliar na lição de casa, apontar aos gestores da escola quais as deficiências e falhas verificadas, ter um canal de diálogo aberto com os professores, sugerir, opinar, tomar decisões em conjunto. Esse esforço resultará na transformação de dois mundos aparentemente diferentes num lugar comum, onde os alunos serão os principais beneficiados.
Publicado no jornal O Popular do dia 16/09/2009
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